E sua relação com As Crônicas de Nárnia
Livros que me levam a boas reflexões são o meu tipo preferido. E quando são acompanhados de uma escrita gostosa e entretenimento de qualidade, melhor ainda. A Biblioteca da meia-noite foi esse livro para mim e eu quero repassar algumas coisas que aprendi com ele. Mas fique tranquilo, não vou contar o final. Apesar de que, se você entender os ensinamentos do livro, vai entender a possível conclusão.
Primeiro, vou te contar a premissa: Nora é uma mulher de quase trinta anos de idade que se sente muito perdida na vida. Ela trabalha em uma loja de instrumentos musicais, não tem amigos nem um bom relacionamento com seu irmão. Mas o pior de tudo é que ela sente que poderia ter feito escolhas melhores no passado e esse sentimento a consome. Então, ela decide tirar a própria vida. O que ela não esperava é que ficaria em um limbo, nem morta nem viva, com a oportunidade de escolher a vida que preferia estar vivendo. Esse limbo na verdade é a Biblioteca da meia-noite e lá, ela encontra a bibliotecária de sua antiga escola, alguém de quem Nora tinha boas lembranças.
A bibliotecária então explica que naquele lugar, Nora poderia escolher a vida que queria viver. Ela tem a oportunidade de não perder sua vida, mas sim, mudá-la para melhor. Cada livro da biblioteca é uma vida — como no multiverso, sabe? — e assim que ela lê a primeira frase de algum livro, ela vai para essa outra versão de sua história. Se ela gostar, ela fica nessa vida e suas memórias se mesclam com as memórias da Nora do multiverso. Se ela não gostar, ela volta para a biblioteca assim que perceber que não quer estar lá.
E é aí que a história fica interessante. Nós observamos Nora experimentar vidas que ela realmente poderia ter vivido se tivesse feito escolhas diferentes na adolescência dela. Afinal, Nora tinha vários talentos: nadava bem, escrevia músicas e tocava piano, além de ter o interesse e a inteligência para ser uma geóloga. A vida dela poderia ter sido perfeita. Por que ela estava vivendo então em grande frustração?
Acho que essa pergunta não se passa apenas na cabeça da Nora, não é mesmo? Quantos vezes pensamos: e se eu tivesse feito aquilo? e se eu tivesse escolhido diferente? e se eu tivesse tentado?
Bom, como uma boa melancólica em crescimento que ama refletir sobre o que lê, decidi não apenas pensar sobre o assunto, mas escrever tudo o que aprendi com o livro.
1 – Precisamos treinar nossos olhos a ver o copo meio cheio
Parece que reclamar é sempre mais fácil do que ver as situações por um ângulo positivo. Podemos colecionar muitas conquistas e ainda assim, encontrar problemas nelas. Claro, não é sempre assim e depende da personalidade de cada um, mas precisamos estar atentos às nossas tendências.
Como podemos fazer isso?
Toda vez que algo de bom acontecer em nossas vidas, que tal celebrar mais? Faça uma janta especial, saia para comer, compre um sorvete. Saboreie suas vitórias, compartilhe com a família e com os amigos próximos. Valorize os bons momentos e agradeça a Deus “exageradamente”.
E quando situações difíceis acontecerem, tente enxergar o que você pode aprender com aquilo. Pode parecer irritante, mas a rotina é radicalmente alterada quando conseguimos olhar para os desafios com esperança e não com desânimo.
E nos momentos em que você ficar com vontade de reclamar de alguma coisa, pense em todas as bênçãos que você de fato tem e pare de focar no que você ainda não conquistou. É o famoso contentamento, do qual Paulo fala em suas cartas.
“Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.Tudo posso naquele que me fortalece.” Filipenses 4:12-13
2 – Olhar para a frente é sempre melhor do que olhar para trás
Está bem, essa parece óbvia, mas será que é? Reveja seus últimos comentários a respeito da vida. É normal você falar frases como “não devia ter feito isso” ou “será que eu fiz a melhor escolha?” ? A verdade é que o arrependimento parece fazer parte da nossa rotina. É fácil achar que a vida que escolhemos não foi nossa melhor decisão. Confira como está seu pescoço. Essa dor que tem sentido deve ser de tanto olhar para trás.
Em Príncipe Caspian, livro da série As Crônicas de Nárnia, Aslan fala algo que me marcou. Depois de muito tempo esperando o leão, Lúcia finalmente o encontra. No entanto, antes desse acontecimento, a menina tinha sentido a presença de Aslan, mas seus companheiros não acreditaram nela e ela não teve a coragem de seguir o leão mesmo assim.
No encontro, Lúcia questiona Aslan se as coisas teriam sido diferentes se ela tivesse o seguido antes. Ele responde que ninguém pode jamais saber o que poderia ter acontecido.
Ah, como eu amo essa cena. Para mentes inquietas que tentam controlar todas as situações, é bom saber que Deus, conhecedor do passado, do presente e do futuro, nos diz que não precisamos nos preocupar com o que poderia ter acontecido. Ele é dono da história e faz tudo se encaixar do jeito que deve ser.
No entanto, Aslan continua sua fala dizendo que Lúcia pode pensar sobre o futuro:
— Mas qualquer pessoa pode descobrir o que vai acontecer — disse Aslan. — Se você voltar aos outros agora, acordá-los e lhes contar que me viu de novo, e que todos precisam se levantar imediatamente e me seguir, o que vai acontecer? Só há uma maneira de descobrir.
E dessa forma, vamos para o próximo ponto.
3 – A vida é o que você faz dela agora
O que Aslan diz é: não perca tempo pensando no que poderia ter acontecido e pense mais sobre o que você pode fazer agora.
Não trave a sua vida mergulhando em arrependimentos. Faça boas escolhas hoje. Não conseguiu terminar a faculdade? Procure um curso para fazer agora. Não fez o intercâmbio que tanto sonhou e que imaginava ter o poder de mudar a sua história? Planeje uma viagem agora e aproveite cada momento.
E mais uma vez citando Paulo, esqueça do que ficou para trás. Siga em frente.
“…esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” Filipenses 3:13-14
Para concluir, quero deixar outras recomendações de filmes, séries e livros que tratam sobre o mesmo tema de A Biblioteca da meia-noite (ou pelo menos eu acho que tratam):
Matéria escura

Essa é uma ficção científica escrita por Blake Crouch. Nela, conhecemos Jason, um professor de física que se pergunta se poderia ter uma carreira mais impressionante. Casado com a mulher de seus sonhos e pai de Charlie, ele vive uma vida modesta e ordinária. Mas tudo muda quando ele é sequestrado e levado para outro mundo. Nele, pessoas para ele desconhecidas o conhecem, sua esposa não é sua esposa e ele nem tem filho.
Ele entra então em uma aventura em busca de sua verdadeira identidade e se pergunta o que faz a vida dele ser realmente dele. É uma obra que mistura multiverso, cenas de ação e muito mistério. É com certeza uma leitura que te prende do começo ao fim.
Questão de tempo

Um filme sensível sobre aproveitar o presente.
Ao completar 21 anos, Tim descobre que pertence a uma linhagem de viajantes no tempo. Ou seja, todos os homens da família conseguem viajar para o passado, bastando apenas ir para um local escuro e pensar na época e no local para onde deseja ir. Ele começa então a utilizar esse poder para conquistar uma namorada e depois, em diversos momentos importantes de sua vida.
Nesse filme, aprendemos a importância de prestar atenção no que estamos vivendo no presente e fazermos o nosso melhor em cada momento. É muito lindo.
A vida secreta de Walter Mitty

Esse é um filme despretensioso que acabou se tornando um queridinho.
Nele, conhecemos Walter Mitty, o responsável pelo departamento de arquivo e revelação de fotografias da tradicional revista Life. Ele é tímido, leva uma vida simples e às vezes se perde em sonhos e devaneios. Ao receber um pacote com negativos de um importante fotógrafo, ele percebe que está faltando uma foto. O problema é que trata-se justamente da foto escolhida para ser a capa da última edição da revista. Então ele, que apenas sonha em se aventurar, decide embarcar em uma grande aventura.
Walter não se contenta em ficar imaginando o que poderia ter sido. Ele toma uma atitude — mesmo que aparentemente tarde — e aprende sobre coragem, propósito e até mesmo sobre sua própria identidade.
Meia-noite em Paris

Algumas pessoas consideram Meia-noite em Paris um filme monótono, mas para os melancólicos de plantão, é um filme espetacular. Isso porque a mensagem do filme é atemporal.
Gil, o protagonista, é um roteirista frustrado que vai para Paris ao lado de sua noiva, Inez. Com um coração nostálgico e acreditando que seria mais feliz se vivesse nas décadas passadas , Gil mergulha em questionamentos sobre o rumo da sua vida e sobre o livro que está escrevendo. Em uma noite, ele está sozinho e não consegue encontrar seu hotel. Ao invés disso, um carro antigo para na sua frente e o convida para entrar. Gil então vai para o passado e conhece personalidades como Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald.
No final, ele percebe o que eu tenho falado durante todo esse texto: nós nunca estamos satisfeitos com a época em que vivemos. Sempre acreditamos que viver outra vida seria melhor. Mas a verdade é que o problema não está no ano em que vivemos, mas sim na falta de contentamento em nossos corações.
This is us

Uma das minhas séries preferidas — e de muitas pessoas — This is Us conta a história da família Pearson, composta por Jack e Rebecca e seus filhos, Kate, Randall e Kevin. Ao mostrar passado, presente e futuro, nos identificamos com os personagens e percebemos a beleza de viver, de ser humano, de sofrer e de se alegrar.
Todas essas obras nos fazem prestar mais atenção à nossa volta, independentemente se as paisagens que vemos são montanhas ou vales. Quando nutrimos um relacionamento intencional com Deus e com nossos amigos e familiares, conseguimos ver beleza onde antes não víamos. E então, paramos de imaginar tudo o que poderia ter acontecido de diferente em nossas vidas e acabamos nos divertindo com o maravilhoso desenrolar da história.